Platina era uma pequena cidade por volta de 1940, porém era bem movimentada, havia muitos viajantes, a estrada boiadeiro com seus cavaleiros que iam para Presidente Prudente mantinha a cidade com ares de cidade grande, porém sua população diminuiu com o a autonomia de Assis por conta da estrada ferro sorocabana e com a emancipação do município de Assis, parte das terras Platinenses foi dividida na agua da Pirapitinga. Com esta divisão do nosso município, nossa população e o progresso caiu no esquecimento, mas muitos moradores de Assis ainda mantem a tradição de enterrar seus mortos no túmulo da família. Ora e outra tem um enterro que vem desta cidade e alguns se perguntam quem são?

Aqui vivia uma família que morava em uma casa de madeira na rua principal perto do antigo Grupo Escolar, nesta casa morava uma menina por nome de Maria, era uma criança deficiente física, seu corpo da cintura para baixo era de um bebê, mas o restante do corpo era normal. Tinha um rosto de pessoa adulta e de uma beleza impar, não falava e era cuidada por sua tia madrasta que por vezes a maltratava. Maria dormia em um colchão de palha de milho, muito comum na época, era um tipo de tecido costurado em ambos os lados com duas aberturas no centro e por estas aberturas eram colocadas às palhas de milho secas ao sol e depois de bem ensacadas ficavam macias e era um excelente colchão.

Maria quando nasceu era um bebê lindo e saudável, mas em uma noite fria de inverno passou muito mal e faleceu, sua mãe desesperada com a morte da menina e já com a casa cheio de pessoas, lamentava a morte e suplicava a todos os santos do céu que devolvesse sua filha, pedia de forma angustiante que não poderia viver sem a menina e seu desespero foi tão grande que a menina abriu os olhos e sorriu para a mãe que agora com jubilo agradecia a Deus por tamanha graça. Todos que se encontravam no local ficaram estupefatos pelo milagre ocorrido naquela noite sob luz de lamparinas e velas acesas e todos se ajoelharam e rezaram um terço de agradecimento pelo ocorrido. Enquanto isso nos braços da mãe Maria sorria para todos.  Passaram o resto da noite em agradecimentos e no outro dia a casa ficou cheia para ver a menina que havia voltado do mundo dos mortos.

Uma peregrinação começou desde então, gente de todas as regiões vinham visita-la e pedir curas de doenças e muitos outros milagres ocorreram durante sua vida.

Mas Maria não cresceu e nunca falou uma só palavra, e uma tragédia se abateu naquela pequena casa, sua mãe faleceu deixando-a aos cuidados de uma tia, Maria já com oito anos chorava sem cessar a ausência da mãe e com o tempo voltou à alegria no seu rosto tão belo.

Sua tia madrasta não tinha muita paciência com a menina e por vezes arrastava o colchão de palha até o quintal e sempre era arrastada por uma vaca de leite, e quando as visitas chegavam recolhiam Maria para dentro de casa e sempre rezavam um terço e fazia os pedidos e depois da graça alcançada traziam como agradecimento, galinhas, porcos, bezerro e muitas vezes uma vaca de leite, pois a menina só se alimentava de leite.

A noticia de Maria Dias a menina que voltou do mundo dos mortos fazia milagres em Platina e toda a região via visita-la e trazer mantimentos e a noticia foi se espalhando de tal forma que a cidade ficava lotada em qualquer dia da semana. Era maravilhoso quando alguém chegava à porta e sua casa e ela deitada sobre a cama recebia todos com um sorriso e isso indicava boa sorte e alguns diziam que quando ela não sorria era sinal de algo não iam bem com a pessoa, outros falavam que quando a pessoa tinha índole ruim ela simplesmente virava o rosto e chorava.

Todos a conheciam nesta imensa região do Vale do Paranapanema, os cavaleiros deixavam seu gado do outro lado do rio e iam pedir a benção para a viagem transcorrer sem problemas, os viajantes que vinham de Campos Novos Paulista não passava por Platina sem antes fazer uma visita à menina e deixar alguma lembrança ou algum retrato de sua família. Muitos traziam maquinas fotográficas que naqueles tempos eram incomuns para tirar uma foto e levar de lembrança.

Essa peregrinação continuou até Mara Dias completar 33 anos, no dia sete de agosto de 1948 ela faleceu de morte súbita e para surpresa geral seus olhos mantiveram abertos com se estivesse viva. A noticia correu e centenas de charretes, carroças cheias de gente, carroças puxadas a boi com inúmeras pessoas que eram encontradas na beira da estrada para acompanhar o velório da menina. A pequena cidade estava cheia de gente de todos os lugares da região. Maria Dias como era o costume foi colocada sobre a mesa vestida de noiva com arranjos de flores sobre o cabelo e com seus belos olhos olhando a todos como se ainda tivesse um fio de vida. E os terços intermináveis durante todo o dia e a noite era feitos por turnos e viajantes, não houve motivo para lagrimas. Era um momento de júbilo estar ali naquela casa onde tantos milagres ocorreram e ao amanhecerem todos se despediram e foi levada para o cemitério local e sepultada na terra ao lado de sua mãe. Todos que aí estiveram foram saindo devagar lamentando a morte da menina, e um maior numero de pessoas que havia chegado depois ainda entravam no cemitério para sua despedida.

Uma semana se passou desde o enterro da menina e algumas pessoas foram ao cemitério levar flores no seu túmulo e para surpresa de todos um pé de suspiro havia nascido sobre o tumulo e já estava florindo e de suas pétalas saiam gotas d’água, e ficaram todos surpresos, pois o sol estava quente e não havia agua parar regar a planta. A noticia se espalhou e a visitação começou e uma família decidiu fazer uma igreja em agradecimento por uma graça recebida, no lugar onde está sepultada tem uma capela onde ainda hoje os visitantes deixam fotos e bilhetes cadernos de escola entre outros objetos por graças recebidas.

Maria Dias continua viva na memória dos Platinenses e deixo aqui minha homenagem

escrevendo esta crônica sobre sua vida.

Meus agradecimentos ao Angelim, Laura, Benedita, Delcisa e Negrinha com suas lembranças e histórias que sua família vivenciou.

Meu agradecimento especial a Laura e Dita, por ter doado uma foto de Maria Dias, foto essa tirada no dia de sua morte vestida de noiva.

Datada de 7 / 8 /1948.

Meus agradecimentos a todos os moradores de Platina e ao Nardo que homenageou Maria Dias colocando o nome de sua fazenda a esta honrada filha de Platina.

MARIA SILVIA