Platina - O funeral de Zé Americo

 
 
    José Americo era um homem de uns 50 anos, que chegou em Platina e arrumou trabalho na fazenda dos Belizoti, um povo que tinha chegado da Italia e se arranchou aqui nas bandas do Bebedouro. Zé Americo logo mostrou para que veio, era trabalhor incançavel, destemido e matador de onça, dizia o povo que sabia umas rezas forte e que quando um boi sumia ou uma vaca não dava cria era só chamar, que em um instante resolvia a questão. Todos confiavam nele e começou a trabalhar com os italianos, e tinha uma vida boa. No sabado ia em Platina tomar umas pingas e ter um dedo de prosa com o Mané Gomes, vendeiro destemperado e quando mal humorado já mandava todo mundo pro inferno. Coisa feia o vendeiro ! Mas com o tempo foram se acostumando com os maus modos do Mané Gomes, que já fazia parte do folclore da cidade e Zé Americo não gostava de brincadeiras e não demorou para Mané Gomes descobrir isso, em umas das paradas dele no armazem e pedir um caneca de agua, Mané Gomes que naquele dia estava azedo mandou que fosse beber agua no rio. Zé Americo não gostou e respondeu que queria agua dalí mesmo e Mané Gomes mandou que fosse beber agua nos infernos e desde então os dois não se falaram mais, nem querozene para a lamparina ele comprava mais , pedia para algum amigo ir buscar. Mané Gomes nem se importou com aquilo era seu temperamento e quem não gostasse que não entrasse na sua venda e o tempo foi passando. Ao nos se passaram e numa noite fria de inverno era altas horas da madrugada, um homem bateu na janela de Mané Gomes e de sopetão disse que queria comprar mortalha, Mané Gomes ainda debaixo dos cobertores, praguejando disse que quam era o louco que tinha que morrer em uma noite fria como aquela, e contrariado levantou-se e disse a mulher que fosse abrir a porta do armazem para o freguês, que afobado disse que José Americo havia morrido a uma duas horas atras e quando todos ouviram o barulho de cheiro queimado já era tarde, botou fogo no rancho a beira da estrada e morreu queimado, de longe viram o fogareo e trataram de correr para apagar, mas qual o quê, não havia mais o que fazer. Manoel coçou a cabeça e pensativo foi colocando em cima do balcão o garrafão de cachaça, 2 maços de vela, 1 litro de querozene para as lamparinas, meio saco de farinha de trigo para as mulheres fazer pão, 200 gramas de fumo de corda do bom e as mortalhas estavam sendo cortadas por Dona Braulina e haja fita. O homem era grande e era muita fita para pregar no caixão, e por último os pregos que o carpinteiro tinha encomendado, e na prosa com Mané Gomes ele disse que não havia tabua comprida , ia ter que emendar. O homem era muito grande !  Mané Gomes estava mudo quase não falou , estava arrependido de ter mandado o falecido beber agua no inferno, mas pensou faz tanto tempo ! Ele decerto já tinha esquecido ! Depois de despachar o homem com as encomendas voltou para a cama mas não pegou no sono, achou melhor rezar um terço para o falecido e, assim varou a noite de lá para cá na cama.
Dona Braulina bem sabia o por que da falat e sono , achou até muito bem feito para o marido, quem sabe se agora ele não falava estas coisas para os fregueses. 
O enterro foi marcado para as 4 horas da tarde no cemitério, era longe, e os homens que estavam no velório acharam que não ia aguentar carregar o morto na estrada de terra, nem havia tantos homens assim para a empreitada, e depois de muita conversa decidiram colocar o caixão de tabua de peroba vermelha porque o defunto merecia madeira boa, afinal era muito trabalhador e algumas daquelas tabuas do caixão foi ele quem cortou na mata fechada, arrumaram o carroção com um bom cavalo e depois e embarcarem o defunto e partiram rumo a Platina, muitos amigos a cavalo acompaharam o trageto e só depois que passou a ponte velha de madeira é que decidiram tirar o caixão da carroça, subiram rumo a igreja que já estava tocando o sino anunciando a benção do Padre. O comercio abaixou as portas quando o caixão de José Americo passou, e aproximando-se do armazem do Mané Gomes, como era o costume, as portas foram abaixadas e ele saiu a porta para olhar o caixão passar. Um arrepio passou por sua costela e arrepiou até os fios de cabelo, Mané Gomes entrou para dentro fez o Sinal da Cruz e rezou fervorozamente pela alma do homem. O enterro parou na igreja e depois da benção seguiu para o cemitério onde foi enterrado. Sem choro nem lagrimas, era um homem sozinho, ninguem sabia ao certo sua idade , nem de onde tinha vindo, cada hora ele dizia que era de um lugar, havia gente que achava até que era fugitivo da policia. Mas feitas as obrigações finais, todos pararam no armazem para contar as histórias do falecido e Mané Gomes só ouviu, nada para falar, e os italianos que fizeram o enterro antes de sair disse para o Mané Gomes que o maior degosto que José  Americo tinha era não ter coragem de entrar no aramzem para fazer compras e ter um dedo de proza com ele, que tinha ficado zangado na hora, mas depois já havia esquecido e morreu com vontade de fazer as pazes com ele. Manoel Gomes e Medeiros foi lá no fundo do aramzem catou uma caixa de rojão, saiu na porta do armazem, soltou os fogos, e todo mundo achou que tinha enlouquecido, mas com sua risada disse que era uma homenagem ao amigo falecido. E mandou rezar uma duzia de missa para José Americo. Ainda hoje o pessoal conta e aumenta esta história nos bancos da praça de Platina .