Platina era uma cidade muito bonita e seus moradores tinham fama de gente brava, de briguentos mesmo, por qualquer coisa já saia um tiroreio e aquela correria do salve-se quem puder. Mas por outro lado era muito divertida, tinha auto falante no armazem do Manoel Gomes e os filhos tocavam o negocio como se fosse radialista , eram músicas sertanejas e de Miguel Aceves Mejia, e nas tardes de verão ou festa de São sebastião o alto falante tocava  sem parar, oferençendo  musicas para as moças da cidade e foram tempos bons, o pessoal da Agua da Pirapitinga descia a rua principal em uma algazarra só e a cidade ficava atenta ao tumulto que faziam, neste tempos havia um telefone público no armazem e era muito comum depois da cervejas eles dançarem catira na cabine de telefone e na praça as moças e rapazes andavam em circulos apreciando o lugar. Em uma tarde de domingo os rapazes a cavalo chegavam das bandas do Lageado com as mulas e burros bem treinados para a competição  mais a noitinha, eram o Wirso, Nerso, Dé, Norberto, Ciro e toda a rapaziada das fazendas num griteiro só. Manoel Gomes bem que gostava de uma boa arruaça e participava com sua voz fina e alta que muitas vezes atraia até o soldado por conta do barulhão e depois de umas voltas na praça e uma cervejada na cabeça ia para a disputa com os animais. era um tal de cavalgar de costas , montar no animal em disparada e havias apostas que o Mané Gomes participava valendo uma cerveja. Depois da disputa todos iam para o aramazem combinar a proxima disputa e havia ainda as namoradas. O Dé era o mais namorador da turma naqueles tempos e era bonito o marvado. Abalava o coração da moças da cidade o mais tímido era o Frosa não gostava de muita conversa e o Ciro era um dos melhores entre todos. Mané Gomes gostava tanto daqueles meninos e dos outros rapazes da região rural que inventou de fazer um baile na sala de visita e a Fiona, Nadir, Landa e Diméia não faltava nos bailes e eu e a Cidinha aprendemos a dançar com a Fiona minha querida mãe de criação. Foi minha babá e a tenho como segunda mãe.  Pedro era o rapaz que colocava os discos para tocar na radiola que ficava no canto do armazem. Não sei porque que acabou-se tudo aquilo era tão bom ! Mas voltando a vaca morta o armazem tinha sempre muita gente comprando, Mané Gomes vendia de tudo e era o point da cidade,os bebados da cidade ficavam alí no balcao o tempo todo bebendo cachaça, rabo de galo, conhaque São João da Barra e cinzano, entre eles havia um homem que sempre andava armado e depois da bebedeira puxava o revolver para o primeiro que se atrevesse a topar briga com ele. Um dia o soldado Antonio viu o furdunço e deu uma boa surra de cacetete e desde então não foi visto na cidade e dizia as más linguas que havia se matado de vergonha.Ainda me lembro bem do dia que a Tunica foi morta na cruz do Sanches, um leiteiro passou por lá e ela estava morta com 20 facadas e a policia de Palmital foi avisada e horas depois ela foi trazida em um caminhão e quando passou em frente o Armazem do Mané Gomes ele pediu que parasse que queria ver o corpo e nesse dia estava com meu pai e olhamos, o vestido dela era estampado e comprido e dava para ver certo o lugar das facadas pelas manchas de sangue até contei para saber a quantidade. Coisas de criança só que depois não conseguia dormir lembrando daquela cena, levaram Tunica para o cemitério e colocaram o corpo na calçada da capela da Maria Dias e o legista fez a autopsia alí mesmo com todos os homens da cidade por testemunha. Foi um acontecimento ! Não se falava em outra coisa ! E depois de certo tempo tudo foi esquecido e a vida continuou. No armazem havia a loja de tecidos da Dona Lina mulher dedicada e muito trabalhadeira , mas muita brava tambem, cortava os meninos na cinta a hora que desse na telha, acho que estava com TPM, doênça moderna mas de negocios ela era a tal, tocava o armazem e a loja com destreza e jamais contava para o marido o que as comadres contava para ela já que Mané Gomes não tinha papas na lingua , espalhava a noticia rapidamente e a esposa não gostava de maledicencia. Assim era a vida em Platina nos anos 60.

SÓ PARA RECORDAR !!!